Pesquisa de Campo: Integrarte

O corpo de dança Integrarte

O Integrarte - Corpo de Dança de São Bernardo do Campo, é um grupo de dança voltado para a inclusão de pessoas com deficiências. Conta com bailarinos surdos e ouvintes, tendo sido um dos pioneiros no país a propor este tipo de integração.  Formou-se como projeto, em 1995, pela fusão do Ballet de São Bernardo com o grupo de Expressão Corporal da Escola Municipal de Educação Básica Especial Neusa Bassetto – especializada no atendimento a alunos surdos,  ambos serviços mantidos pela Prefeitura.


Grupo de dança Integrarte

Este projeto passou, a partir de 1999, a contar com uma parceria entre a Secretaria de Educação e Cultura e a Associação Santo Inácio de Integração do Trabalhador Especial (ASIITE) – uma organização não-governamental formada por pais de deficientes e mantida pela Prefeitura de São Bernardo desde o ano de 1980. Esta parceria possibilitou que os participantes recebessem uma bolsa auxílio através do Centro de Integração Empresa-Escola, CIEE. Atualmente, as oficinas estão sob a responsabilidade da Secretaria de Cultura e também contemplam pessoas com deficiência visual e pessoas com déficit cognitivo, sendo cinquenta por cento das vagas destinadas às pessoas com deficiências, sempre na perspectiva da inclusão.


Placa de identificação na sede do Integrarte

A partir da necessidade de algumas escolas da Rede Municipal, neste ano de 2013 o Integrarte está trabalhando em um espetáculo com coreografias de músicas dos compositores Chiquinha Gonzaga, Vinícius de Moraes e Luiz Gonzaga, que contemplará, até o final do ano, 80 escolas nos períodos da manhã e da tarde.

A sede do grupo, cedida pela Prefeitura, fica em um prédio tombado pelo patrimônio histórico, que foi a primeira Igreja Presbiteriana Independente de São Bernardo do Campo. O local é conhecido como “Igrejinha” e está  localizado na Rua Dr. Fláquer, nº 824, rua transversal à Avenida Prestes Maia,  uma das principais vias do centro do Município de São Bernardo do Campo. Trata-se de um local amplo que nos pareceu bastante adequado para as atividades do grupo. Como é um bairro central, o acesso é fácil, havendo disponibilidade de linhas de ônibus e trólebus. Próximo à sede há outros pontos de comércio, como padarias, lojas, restaurantes, mas também prédios e residências.


Sede do Integrarte, a "igrejinha"

A Pesquisa de Campo

Data: 20 de setembro de 2013, das 13h30 às 17h30
Primeira atividade: apresentação do Integrarte em uma escola de educação infantil da Rede Municipal de São Bernardo do Campo.
Segunda atividade: entrevistas e acompanhamento de uma aula na  Escola Municipal de Arte e Educação Integrada Paulo Bugni, sede do grupo,  localizada na Rua Dr. Fláquer, 824 – Centro de São Bernardo do Campo.

Relato

Na data combinada, chegamos à EMEB às 13h20min. Fomos recebidos por uma funcionária da Unidade que nos conduziu até o local onde seria realizada a apresentação.  As professoras já estavam organizando as crianças para assistir à apresentação.  A coordenadora do Integrarte, Sra. Geisa, também estava no local. Nos apresentamos e  conversamos rapidamente sobre a proposta.

Uma professora explicou para os alunos que a apresentação complementava um projeto desenvolvido na escola sobre os compositores Vinícius de Moraes e Luiz Gonzaga e a coordenadora do Integrarte, Geisa, falou sobre os ritmos que seriam apresentados.


Coordenadora Geisa falando com os alunos

A apresentação começou com uma coreografia da música Escravo da Alegria, composição de Toquinho e de Vinícius de Moraes e, em seguida, uma sequência de músicas de Luiz Gonzaga: ”Olha a pisada”, “Baião”, “Mulher Rendeira” e “Asa Branca”. Uma das músicas foi acompanhada por sinais da Língua Brasileira de Sinais -  LIBRAS. Após a apresentação das danças, a coordenadora explicou para os alunos o que era LIBRAS e todos experimentamos fazer os sinais para  uma das músicas. Em seguida fomos para a sede do Grupo para a segunda atividade da pesquisa.



Na sede do Integrarte,  Geisa nos apresentou os  funcionários e o espaço físico. Depois fizemos as entrevistas. A primeira delas foi com o dançarino surdo Aramis Figueredo que nos contou um pouco sobre a sua experiência no grupo Integrarte.



A segunda entrevista foi com a dançarina Grazi Stivaletti e com o senhor Lúcio, ambos com deficiência visual. Você pode conferir abaixo um trecho da entrevista da Grazi.




Aos poucos os participantes da oficina de dança para  pessoas com deficiência visual foram chegando e ocupando o salão. Antes do início a Geisa conversou com o grupo sobre a nossa presença, explicou os objetivos da  pesquisa e falou sobre o uso de imagem, perguntando se todos concordavam em autorizar. Após todos concordarem, distribuímos o termo de autorização de uso e divulgação de imagem para que assinassem.


Grupo Inclusive e Geisa, a coordenadora do Integrarte

A oficina começou com exercícios de alongamento, seguidos por contagem de passos e depois o ensaio com música.  Nós também “entramos na dança”.  Só não participou quem tinha outras tarefas para realizar, como a organização de documentos, registros, entre outras.  Um pouco antes do término foi feito um intervalo e aproveitamos para tirar fotos com todos. Ao final da aula, ainda tivemos tempo para que a Sara e a Janice realizassem uma breve entrevista com o professor de dança Daniel Pimenta, que nos contou um pouco sobre seu trabalho no Integrarte, e com a voluntária Carol Becker, que é também aluna conosco na UFABC.






Durante o período em que ficamos com o grupo, conversamos com os participantes,  conhecemos um pouco da sua realidade e, mais que realizar um trabalho para a disciplina,  tivemos uma vivência  ímpar, que repercutirá na vida de cada um de nós. Até hoje em nossos últimos encontros para organização do trabalho lembramos de detalhes, comentamos situações, enfim, foi uma experiência marcante para todos.


Grupo Integrarte e Grupo Inclusive
       
Resultados Parciais
Durante este trabalho foi possível perceber que pessoas com qualquer tipo de deficiência não querem ser tratadas como vítimas, mas como cidadãos, com direitos e deveres garantidos. Não querem ações sociais que os diferenciem, mas apenas meios que facilitem o seu acesso aos bens e serviços disponíveis, pois elas não se sentem limitadas.
O trabalho realizado em Instituições como o Integrarte, ao possibilitar que pessoas com e sem deficiência atuem juntas, rompe com tabus e preconceitos e, nesse sentido, acaba por “incluir os não deficientes”, uma vez que muitos de nós não convivemos com pessoas deficientes nas nossas atividades cotidianas, justamente porque, durante muito  tempo, essas pessoas não tiveram o direito de participar ou de conviver nos mesmos espaços que as demais.
Entre estes espaços, as escolas desempenham um papel fundamental, pois possibilitam a convivência de crianças e adultos, constituindo-se, assim, em um local privilegiado para construção e troca de conhecimentos entre as diferentes gerações. No entanto, somente através de  mudanças na legislação[1]está sendo possível que pessoas com deficiência frequentem  escolas da rede comum de ensino e, dado o caráter recente desse direito, ainda enfrentam muitas dificuldades para que  tenham, de fato, garantidas as condições de acesso ao currículo.

Via de regra, os recursos e serviços públicos de que toda a população pode desfrutar são planejados por pessoas sem deficiência e pensados igualmente apenas para essas pessoas. Para reverter essa situação indicamos que as discussões sobre o paradigma da inclusão devam ser intensificadas, especialmente no contexto das universidades. Além disso, precisamos de mais instituições que considerem a participação de qualquer pessoa, independente de suas condições físicas, sensoriais e intelectuais nas atividades por elas promovidas.
Nesse sentido, consideramos uma iniciativa importante da UFABC, a aprovação, no dia 24 de setembro, de uma resolução que estabelece cotas para pessoas com deficiência que pretendem estudar na instituição, além de reconhecer a necessidade de promover as condições de permanência e sucesso acadêmico desses alunos. Para atender a essa necessidade, a mesma resolução prevê a criação de uma bolsa para estes alunos e a disponibilização de monitores para o acompanhamento de suas atividades acadêmicas. 
Apesar da relevância dessa medida, há inúmeras barreiras atitudinais a serem derrubadas, assim, indicamos que a UFABC, além de adequar sua estrutura física e o material de estudos para o sucesso destes alunos, deve desenvolver ações junto a seus professores, funcionários administrativos e alunos, para que ressignifiquem a posição social historicamente ocupada pelas pessoas com deficiência.


Conclusão



A inclusão de pessoas portadoras de deficiência mais precisamente por meio da arte foi o tema tratado no nosso projeto. Durante o seu processo de construção fizemos este blog com o intuito de ser uma narrativa, um diário, do nosso trabalho. 

Os textos trabalhados em sala de aula serviram como suporte teórico para refletirmos sobre a construção da identidade das pessoas com deficiência a partir do paradigma da eugenia e do paradigma da inclusão. Numa sociedade eugênica existe um padrão, um modelo, uma identidade quase perene a ser seguido que alija as pessoas que nele não se enquadram. O paradigma  inclusivo é próprio da chamada sociedade pós moderna, na qual se percebe  uma maior fluidez/mobilidade, onde as possibilidades de encontros são maiores, já que se pretende a inclusão de todos. Assim, pessoas com deficiência, em tese, participam e usufruem de qualquer espaço, segundo as suas possibilidades e singularidades e a arte pode vir a se constituir um facilitador desse processo.

Elemento intrínseco da cultura humana, a arte possibilita a construção/criação de sentidos, a aproximação, as trocas e a convivência. Através dela as pessoas estreitam laços, estabelecem vínculos, desenvolvem aspectos como a sensibilidade e a estética, dimensões imprescindíveis para uma vida plena. Trata-se ainda de uma ferramenta fundamental para a apreensão do mundo e da humanização mesma.

Para pessoas com deficiências a arte assume uma importância capital, seja como meio de expressão ou como meio para a compreensão da realidade, de si mesmo e do outro. Este aspecto ganha especial relevância ao considerarmos a situação de pessoas que adquiriram deficiências após acidentes, doenças ou outros eventos traumáticos. Para elas, a arte representa um caminho possível e seguro de (re)construção da identidade, uma vez que lhes permite (re)aproximar-se do outro pela experiência sensível.

Neste sentido, a pesquisa de campo realizada em uma instituição que promove a inclusão de pessoas deficientes e não deficientes através da dança e a  participação em um evento cultural voltado para o teatro inclusivo, que compuseram as duas etapas deste estudo,  confirmaram nossa impressão inicial de que a  inclusão das pessoas com deficiência  é desejável e possível e que a arte estabelece pontes onde a sociedade impõe barreiras.  

Percepções individuais dos membros do 
Grupo Inclusive

Ayla

Eu fui uma das pessoas a ir assistir a apresentação que o Integrarte faria naquele dia na EMEB. Fui junto com a Marília e o Giovani e nos encontramos lá com a Janice. Quando chegamos, as crianças já estavam sendo colocadas para sentar, pois logo começaria a apresentação. Sentamos ao fundo e preparamos nossas máquinas para tirar algumas fotos e tentar fazer vídeos, e logo a Sra. Geisa, responsável pelo Integrarte, entrou na frente das crianças para apresentar o grupo e a apresentação começou.


Os dançarinos eram tão habilidosos que a câmera mal conseguia capturar seus movimentos !

Confesso que fiquei embasbacada com o talento daquele pessoal. Além de dançarem incrivelmente bem, estavam sempre com o sorriso no rosto e dançavam olhando para as crianças, como se com o olhar pudessem levá-las junto para a dança. Percebi logo de cara que eu não era a única a estar gostando da apresentação: meus amigos estavam adorando, balançavam os ombros no gingado da música e inclusive nos levantamos para fazer, junto com as crianças, uma parte da coreografia que envolvia sinais de libras. 

Parte da coreografia que envolvia sinais de Libras

A apresentação acabou logo, infelizmente, e rapidamente nos vimos na mesma van que os dançarinos, indo em direção à sede do Integrarte no centro da cidade.


Foto tirada com o amigo do Grupo Inclusive antes de irem para a sede do Integarte

Quando chegamos na sede, logo reparei que parecia ser uma construção antiga, porém em ótimo estado de conservação, e achei muito legal quando a Janice me contou que aquele lugar outrora fora uma igreja.


Ayla e Leonardo do lado de fora da sede do Integrarte

Lá dentro, fomos apresentados às funcionárias que trabalham no Integrarte e, enquanto aguardávamos a chegada do restante dos integrantes de nosso grupo, iniciamos as entrevistas. Eu fui a pessoa escolhida para entrevistar um dos garotos surdos do grupo de dança com o auxílio de uma das funcionárias que conhecia um pouco de libras. A entrevista aconteceu tranquilamente, mas confesso que em dado momento foi um pouco difícil de segurar a emoção e fiquei com um nó na garganta: foi quando o entrevistado nos respondeu que o que mudou em sua vida quando ele ingressou no Integrarte é que antes ele era infeliz, não tinha amigos e não saia de casa, mas agora tudo estava diferente. Em seguida, a Sra. Geisa nos mostrou todo o lugar, e achei que fizeram um excelente trabalho transformando aquela antiga igrejinha em um espaço de ensaios e apresentações. 


Espaço de ensaio da sede do Integrarte

Depois que todos os outros membros chegaram, terminamos com as entrevistas e fomos participar da aula de dança de salão que o Integrarte oferece às pessoas com deficiência visual. E essa foi, sem dúvida, a parte mais gostosa do dia. A grande maioria dos cegos que estavam ali para a aula era de senhores e senhoras, havia provavelmente um ou dois jovens. Alguns pareciam mais dispostos, outros um pouco menos, mais lentos e quietos, mas todos, com certeza, pareciam felizes com a atividade. Não havia, porém, um par para todos os dançarinos cegos (já que deve-se dançar um cego com um vidente), e foi assim que de repente vi quase todos os membros do meu grupo fazendo par com um dos cegos.


Os pares foram formados ! Grupo Inclusive e Grupo Integrarte se misturando !

Fui apresentada ao Sr. Lúcio e fizemos a aula juntos. Além de ser uma pessoa extremamente agradável e de bem com a vida, estava sempre sorrindo, era muito gentil e era um ótimo dançarino ! Impressionei-me, nesse instante, com o fato de que eu estava impressionada: eu tinha enraizado em meus conceitos que um deficiente visual não consegue dançar, mas já ali, naquele momento, descobri que eu estava completamente errada e rapidamente o conceito de deficiente visual teve uma completa re-significação para mim.

Para a sorte do Sr. Lúcio, eu não sou tão ruim assim para dançar, então rapidamente aprendi os passos que ele tão pacientemente me ensinou. Conversamos bastante, ele me deu de presente um origami de um tsuru que ele mesmo havia feito (e novamente o meu espanto, que me fez entender cada vez mais que ser deficiente físico não é sinônimo de ser inválido ou incapaz) e me ensinou algo que sempre me encucou: como guiar um cego. Achei suas instruções muito úteis e agora estou mais preparada para se algum dia eu precisar dar auxílio a um DV.


Ayla e o Sr. Lúcio
Durante nosso bate-papo também descobri que o Sr. Lúcio ficou cego depois de adulto devido à diabete, mas fiquei receosa de lhe fazer perguntas mais pessoais, de como foi a sua adaptação à nova condição em que se encontrava e o que ele achava disso hoje em dia, pois eu não sabia se tocar no assunto seria fácil ou doloroso à ele. Deixei que se abrisse comigo para o que quisesse, sem que eu o induzisse a falar sobre o assunto.

O encontro acabou bastante rápido e devo dizer que saí cansada da aula (embora o Sr. Lúcio ainda estivesse cheio de disposição !). Despedi-me de meu par na dança e lhe agradeci pela companhia. Logo fomos todos embora, mas o Integrarte ainda ficara em minha mente mesmo depois que já havia chegado em casa. No dia seguinte, ainda pensando no assunto, percebi que a experiência do dia passado havia sido realmente boa, pois agora eu estava enxergando as pessoas com deficiência sob uma nova perspectiva, e decidi que permanecer em contato com esse tipo de atividade faria bem à construção de meu caráter e de minha própria identidade, além da do deficiente em si. Nesse dia, decidi que me inscreveria no Integrarte como voluntária para dançar e participar da inclusão dessas pessoas em nossa vida e sociedade.


Ayla e seu novo amigo !

Bruno

No dia 20/09, fomos até o Integrarte em um caminho cheio de percalços: fomos para o endereço errado. Tínhamos que ir para a rua Dr. Flaquer e acabamos indo para a senador Flaquer, então tivemos que andar muito pra chegar até lá, o que tornou o dia muito cansativo, porém, chegando lá, tive a sensação de que não foi em vão. Gravamos um depoimento muito bom com alguns participantes do projeto, depois fomos ver realmente o trabalho realizado lá. Todos nós fomos contagiados pela alegria e descontração que os participantes têm. Eu e o Matheus ficamos encarregados de gravar e tirar fotos, por isso não conseguimos dançar muito com as pessoas, mas já o Daniel e o Giovani mostraram ter um talento nato para dança. Fiquei muito impressionado com a moça que dançou com o Giovani, ela dançava muito bem. Antes de ver aquela cena, eu tinha na mente a ideia de que um cego nunca poderia chegar em um nível de capacidade para a dança como aquele, mas isso abriu meus olhos e me mostrou que muitas vezes somos nós quem colocamos as limitações aos outros.


Registrando todos os momentos dessa ótima experiência

Daniel Igor


Combinei com algumas pessoas do grupo de nos encontrarmos no campus de SBC para irmos ao Integrarte. Pegamos o fretado da UFABC e paramos no terminal de SBC, localizado no centro da cidade.

Indo pro centro de SBC

Seguimos em direção ao endereço que nos fora passado, porém, ao chegar no endereço Avenida Senador Flaquer, não encontrávamos o número 248. Ligamos para o restante do grupo e eles disseram que o nome da rua era Doutor Flaquer. Perdemos uns 40 minutos andando. Chegando no Integrarte, era possível perceber uma grande quantidade de pessoas reunidas esperando o começo das aulas. Uma parte do grupo estava fazendo a entrevista com a diretora do local, Geisa. O ambiente onde ocorre as aulas era animado, nesta sala o que me chamou a atenção foi o largo sorriso que uma menina com Síndrome de Down me deu. Aquele tipo de sorriso é díficil de se encontrar, um sorriso sincero. Depois dele me senti em casa, não esperava a hora de começar as aulas para que eu pudesse dançar junto com eles.

Primeiro foram feitos exercícios de alongamento; eu seguia todas as instruções da professora e o grupo também. Aliás, eu tenho que me alongar mais, percebi que tenho alguns movimentos limitados.

Hora de alongar !

Depois desse alongamento, começou a dança, me apresentaram a Dona Irene, que é deficiente visual e ótima dançarina. Ela estava toda animada e não via a hora de "requebrar". No primeiro momento tive medo de machucá-la, mas conforme o tempo passava o entrosamento ia aumentado. Ela me contou quando entrou no Integrarte e que já fizera quase um ano no grupo, disse que a iniciativa é ótima e me convidou para participar desse projeto. Dançamos muito, eu cansei, suei, me diverti pra caramba. O ambiente era de descontração e de muita energia.

Daniel e Dona Irene "requebrando"

Ao final da apresentação tiramos algumas fotos e agradecemos a todos do Integrarte a oportunidade de fazer essa visita.  E, mais uma vez, fomos convidados a participar do Integrarte.

No dia seguinte, ao lembrar daquele momento no Integrarte a sensação foi de nostalgia e decidi que faria parte daquele projeto. No Integrarte, as diferenças físicas são visíveis em primeiro momento, porém depois do convívio você não percebe essas diferenças. Além do mais, você percebe que a deficiência que alguns têm de um determinado sentido faz com que os outros sentidos fiquem mais ressaltados. A Dona Irene tinha uma disciplina pra dançar invejável, e eu que sou aparentemente "normal" não tenho uma coordenação como aquela. Percebi que no Integrarte existe uma troca de sentidos, uma troca de experiências. O Intergrarte é um local para que todas as pessoas ressiginifiquem os seus preconceitos.

Roda formada ao final da aula

Giovani

Numa sexta-feira de muito sol, nosso grupo foi ao Integrarte para realizar nossa pesquisa de campo. Como somos muitos, não conseguimos ir todos juntos, tivemos que nos organizar em grupos que partiram de lugares diferentes. Lá por 12h30, eu, Marília e Ayla, pegamos um ônibus – que demorou muito – para ir até uma EMEB (Escola Municipal de Educação Básica) e nos encontrarmos com a Janice com o intuito de ver uma apresentação do Integrarte no local.


Esperando o ônibus chegar

Ao chegarmos, achamos Janice e todos os aluninhos sentados, logo nos acomodamos também, para assistir os dançarinos que se apresentaram com as músicas de Vinícius de Moraes e Luiz Gonzaga. A criançada tinha feito atividades sobre os dois compositores em sala de aula, assim o espetáculo dos dançarinos complementou o estudo das crianças. Foi muito bom ver não só a alegria da garotada, mas também dos dançarinos, das professoras, dos funcionários da escola e do nosso grupo. 


Giovani e seus novos amigos

Acabado o show, conhecemos a Geisa (coordenadora do Integrarte) que nos ofereceu uma carona para nos deslocarmos até a “Igrejinha” - sede do projeto, na rua Dr. Flaquer. Prontamente aceitamos.


Grupo Inclusive pegando uma carona com o Grupo Integrarte

Assim que chegamos, fomos apresentados aos outros funcionários do projeto. Tivemos um contratempo: o restante do grupo não havia chegado ainda. Liguei para a Tairine, que me disse estarem perdidos. Em vez de irem até a Rua Dr. Flaquer, eles estavam na Avenida Senador Flaquer. Resultado: tiveram que andar bastante pra chegar, mas conseguiram. Enquanto esperávamos o restante do grupo, iniciamos as entrevistas com os participantes do projeto. Durante a segunda entrevista todo o grupo já estava completo. Após termos os depoimentos gravados, nós participamos da aula de dança onde a maioria era deficiente visual. Tivemos que pedir autorização de imagem à todos, que com muita felicidade concordaram, pois entenderam que o nosso trabalho pode divulgar este projeto social tão importante.


Término do alongamento antes da aula

Minha parceira de dança foi a Grazy, garota muito divertida e cheia de ânimo. Entre uma música e outra, conversamos bastante. Ela contou que ficou cega na infância por ter sofrido de leucemia. Logo perguntei como ela lidava com essa deficiência, ainda mais para alguém que um dia já enxergou. Ela disse que no começo foi difícil acostumar, mas não muito, ainda mais porque ela perdeu a visão aos poucos. E com toda alegria ela perguntou o que eu estudava: eu respondi brevemente sobre o BCH (fazer as pessoas entenderem o que é o BCH não é uma tarefa muito fácil), mas acho que consegui. O tema da aula era forró, assim “forrezeamos” bastante. Quase no final, todos se juntaram em um “trenzinho” no ritmo da música. Foi muito divertido! 


Giovani e sua parceira Grazi

Ao final da aula tiramos uma foto com todos os participantes do projeto, que sempre estão muito animados. Depois, a sala foi se esvaziando. Cada um foi tomando seu caminho. Nós ainda realizamos mais uma entrevista com um estagiário do projeto. E por fim também encerramos nosso trabalho por lá!

Com a nossa visita ao projeto, pude ressignificar muitos elementos meus. Ao conversar com a Geisa e com os deficientes, percebi que projetos como esses são poucos e insuficientes para a demanda que tem. Tem muita gente na “fila de espera”. Com as entrevistas, é evidente que os deficientes aguardam ansiosamente pelo dia da aula de dança, porque assim eles entendem que ser deficiente não é o mesmo que inválido. O Sr. Lúcio (deficiente visual) disse que ele mesmo teve que quebrar a barreira de dois preconceitos para participar da dança: o de ser cego e o de um homem dançar. Os próprios deficientes não se imaginam participando de projetos como esses. Eles também lembraram que não é uma tarefa fácil, como no caso da Grazy, que leva uma vida como a de um não deficiente. Ela estuda psicologia na Metodista e passa por várias dificuldades, desde não ter acessibilidade à sala de aula até ao material didático, pouco didático para um deficiente visual.

Foi realmente gratificante ver o quanto eles são empenhados e mantêm um enorme esforço para não se acomodarem com a errada ideia de que são deficientes e por isso são inválidos. A coordenadora do projeto nos lembrou de que o diferencial do Integrarte está em incluir os não-deficientes com os deficientes, e não ao contrário. Com isso há um empreendimento pensado diretamente para o deficiente. Prova disto é a alegria que contagia de todos os participantes das mais diferentes idades. Penso que iniciativas como estas devam ser espalhadas por todo o país, pois além de melhorar a qualidade de vida, tem sua importância por reinserir estes cidadãos na sociedade.


Dançar faz bem, tente você também !

Janice

No dia 20 de setembro,  conforme havíamos combinado, fui para a EMEB onde haveria a apresentação do Integrarte. Saí direto do trabalho e cheguei ao Centro da Cidade em cima da hora, então tive que ir de táxi. Ao chegar, às 13h20, conversei com o porteiro e avisei que estava ali para assistir à apresentação do Grupo e que mais três colegas iriam chegar a qualquer momento. Fui conduzida por ele até à secretaria e a funcionária, bastante solícita, levou-me até o local onde aconteceria a dança.
Grupo Inclusive pronto para assistir a apresentação
As professoras já começavam a organizar as turmas e logo em seguida os colegas da sala chegaram. Cabe informar que se trata de uma escola de educação infantil, situação que determinou que apenas quatro de nós fôssemos, pois somos dez e esse grande número de pessoas poderia tumultuar o trabalho, o que ,definitivamente, não era a nossa intenção. Todos “a postos” e começa a apresentação. Muita alegria e movimento e, aos poucos todos estávamos envolvidos com os ritmos. Era possível perceber a satisfação das pessoas em participar daquele momento. Músicas brasileiras de qualidade e uma dança solta, bem ensaiada e profissional.
Janice encantada com a apresentação do Integrarte na EMEB

Depois, fomos todos para a sede do Integrarte,  onde acontecem os ensaios e as oficinas. Ainda naquela tarde iríamos realizar as entrevistas com a coordenadora e com os integrantes e também assistiríamos a uma oficina de dança destinada a pessoas cegas e não cegas. Chegando ao local, a Sra Geisa, coordenadora do projeto, nos apresentou as funcionárias e o local. Logo em seguida realizamos as entrevistas. Eu fiquei responsável por registrar a experiência e organizar as autorizações de uso de imagem. Como tinha feito os contatos com a Secretaria de Educação (SE),  fui chamada para atender a um telefonema do funcionário do setor da SE ao qual o Integrarte está ligado solicitando uma cópia escrita do trabalho, para compor o processo de autorização. Combinei que logo que terminássemos encaminharíamos o material solicitado. Apesar disso consegui dançar um pouquinho com um rapaz chamado Clayton. Ele teve bastante boa vontade em  me ensinar os passos, mas logo tive de sair. Uma pena!
Janice ficou triste de não aproveitar por mais tempo essa dança !
Já conhecia o local e também havia assistido a várias apresentações do Integrarte, mas desta vez não estava apenas na condição de expectadora, pois tinha a responsabilidade de apresentar o trabalho desenvolvido, o que provocou uma mudança no meu olhar para o Grupo. Ver a apresentação em uma escola, a reação das crianças, das professoras e dos demais trabalhadores às coreografias, conhecer o local dos ensaios, participar da oficina de dança e, principalmente, dançar com uma pessoa cega, foram vivências marcantes. Realizar esta atividade com o grupo de colegas de sala foi muito prazeroso. Mais do que servir para aprender conteúdos ou para receber notas em uma disciplina, essa experiência me enriqueceu como pessoa.
Atuo na área da educação, na perspectiva da construção de uma escola para todos. Nos dias que se seguiram, fiquei pensando no trabalho que venho realizando e espaços como o Integrarte, vem reafirmar a minha crença de que no paradigma da inclusão,  todos ganhamos.  
Leonardo

Fui sozinho, pois iria sair mais tarde devido à outros compromissos. Como não conhecia bem a região, já que sou do interior, acabei me perdendo e levei aproximadamente meia hora até encontrar o local. Estacionei no bairro e fui a pé, mas devido à preocupação e por achar uma vaga bem em frente à sede do Integrarte, voltei e estacionei ali mais próximo.

Quando cheguei, uma parte do pessoal conversava com as funcionárias sobre como seriam as entrevistas e as pessoas mais indicadas à dar depoimento. Enquanto isso, outros integrantes do grupo estavam perdidos em outra rua com nome parecido, mas um tanto longe, e acabaram tendo que vir a pé. Chegaram bem em cima da hora, mas deu tempo !

Iniciamos as entrevistas com um rapaz e uma garota que participam do projeto há alguns anos, e não foi preciso esforço para reconhecer a imensa importância daquele projeto na vida deles e, com certeza, na vida dos outros participantes. É comovente ver como um projeto tão simples pode tirar pessoas de um isolamento social, e trazer também, conforme foi dito claramente pelos entrevistados, felicidade para a vida deles. Muitos não tinham atividade alguma antes do projeto e passaram a conviver com pessoas e a participar do ambiente social, o que faz uma enorme diferença na criação da identidade própria, da autoconfiança, na capacidade de sonhar e acreditar que seus sonhos são possíveis. Isso é proporcionado a essas pessoas pelo grupo, e é de extrema importância pois a forma como historicamente as minorias foram tratadas gerou uma marginalização que cria uma enorme dificuldade em se viver uma vida normal, o que é perfeitamente possível desde que se crie condições que não são tão complicadas como parecem.

Bora bailar ?

Marília

Na sexta feira, dia 20/09/2013, acompanhamos parte do grupo Integrarte em uma apresentação em uma EMEB de São Bernardo do Campo; fomos muito bem recebidos e pudemos presenciar o profissionalismo da apresentação do grupo, que me deixou impressionada; na dança de um dos casais, tivemos giros no ar e passos complexos, as crianças presentes se divertiram muito. A apresentação foi rápida, mas conseguimos ter ideia do alcance do trabalho do grupo ao ver aqueles olhos brilhando por estar ouvindo a música trabalhada nas suas aulas acompanhada da apresentação. Depois da apresentação o grupo ensinou parte de uma musica com os sinais para as crianças, além delas os adultos presentes repetiram a coreografia e se divertiram.


O dançarino estava prestes a levar a dançarina até o alto !

Depois da EMEB acompanhamos o grupo em sua van até a sede do Integrarte em São Bernardo, chegamos lá por volta das 14h30. A Geisa, que estava conosco, abriu as portas e prontamente  nos apresentou o lugar, bem como suas modificações para acessibilidade, novos banheiros, rampas entre outras áreas disponíveis para os ensaios; nos mostrou as caixas acústicas acopladas no chão para que os deficientes auditivos (DAs) sentissem a vibração da música, barras laterais que servem de guia para os deficientes visuais (DVs), entre outros itens necessários para a acessibilidade no local.


As barras que o Integrarte tem em todas as paredes auxiliam os DVs

Após esse primeiro contato fui cuidar da parte burocrática da visita, como a coleta das autorizações de uso de imagem (sim, nós precisamos que cada pessoa que foi filmada, mesmo que por um segundo, preenchesse a autorização com seus dados para o uso da imagem). Aproveitamos que o grupo dos DVs só chegaria às 15h para adiantar essa parte e já coletar as autorizações dos integrantes do grupo.

Todas as autorizações de uso de imagem foram devidamente recolhidas

Enquanto os DVs não chegavam, entrevistamos o Aramis, a Grazy, o seu Lúcio e a própria Geisa (vocês podem acompanhar as entrevistas disponibilizadas no blog); algumas coisas me chamaram a atenção, como, por exemplo, que os deficientes auditivos preferem ser chamados de surdos porque a primeira denominação varia segundo o grau de deficiência. O mais importante, porém, foi que todos concordam que essa forma de arte mudou suas vidas radicalmente e perceber logo na chegada esse impacto me fez analisar as horas que vieram depois com outros olhos.

O grupo de DVs finalmente chegou; começaram com um aquecimento, todos sentados, cada um acompanhado por um membro do Integrarte, e a seguir iriam retomar os passos de dança (sua atividade é às sextas-feiras). Fomos, então, chamados para participar do ensaio; meu parceiro foi o Sr. Moisés, ele estava arrumado com roupas claras, óculos escuros e uma boina para fechar o look.

Marília, Sr. Moisés e seu estilo

Entre as coordenadas do forró, dois pra cá, dois pra lá, conheci o meu parceiro um pouco melhor: ele me contou que não era cego de nascença e que essa condição fora consequência de um glaucoma que pegou uma das vistas por vez, deixando-o totalmente cego no final do ano passado. O seu Moisés pode não saber, mas ele me emocionou ao contar com alegria o que mudou na vida dele depois disso, ele me falou como se aprende a receber ajuda das pessoas, o momento em que você entende que precisa de certas coisas que, por mais que você queira ser independente, isso não será possível e que isso não é motivo de vergonha. Disse ainda que os outros sentidos são apurados e que mais que tudo ele aprendeu a ouvir, dar valor as palavras. Depois disso, dançamos, erramos e acertamos os passos diversas vezes, até que o Sr. Moisés se cansou e me pediu para guiá-lo até a barra lateral e trazer um copo d’água. Nos momentos seguintes conversamos com mais pessoas e tivemos uma música de dança livre que mostramos no nosso vídeo final, todos do grupo dançaram e se divertiram no inevitável trenzinho comum às pistas de dança.

Uma das coisas que mais me tocou nesse dia foi o contato físico com essas pessoas, a receptividade de cada um deles, que pega na sua mão e confia a você a segurança dele. No momento que você está sendo os olhos daquela pessoa, você sente uma conexão muito além de um abraço ou um aperto de mãos; é algo que para eles virou rotina. Poder presenciar esse papel da arte na vida de cada um foi inesquecível, mesmo que por um dia. Saí de lá pensando no motivo de eu não ter contato com pessoas com deficiência no meu dia-a-dia, ainda mais que eu não tenho nenhum amigo portador de deficiência; saí pensando na troca que o Aramis disse na sua entrevista, que é tão importante e que o Sr. Moisés me mostrou na sua curta e riquíssima conversa. O gostinho de quero mais é inevitável e com certeza o grupo viu como o voluntariado em programas como esse pode mudar sua percepção do mundo.


Marília conhecendo um pouco mais da história do Sr. Moisés

Matheus

No dia 20/09 tínhamos que ir ao grupo Integrarte. Eu, Daniel, Bruno e Tairine estávamos no campus SBC e esperamos até às 13:50 para pegar o ônibus da faculdade que nos levaria até a rodoviária de SBC, de onde iríamos andando para o Integrarte encontrar com os outros integrantes do grupo. O endereço que nos foi passado era: Av. Senador Flaquer, 248. Tínhamos traçado a rota no Google Maps, portanto quando chegamos na rodoviária seguimos o caminho planejado e andamos durante cerca de 15 minutos até chegar nessa avenida. O problema era que não achávamos o número do local procurado em nenhum dos dois lados da rua. Pedimos informação para pessoas que passavam na rua, mas ninguém sabia onde era o Integrarte. Então ligamos para o restante do grupo para ver se eles já haviam chegado, podendo nos ajudar com isso. Já era por volta de 14:40 e o "encontro" estava marcado para 15:00. Conseguimos falar com o pessoal, mas eles falaram que o endereço correto era Rua Dr. Flaquer, e não Senador. Também foi passado que este novo endereço era perto do campus Sigma, em SBC. Logo percebemos que estávamos bem longe e que teríamos que andar bastante. Aceleramos o passo, voltamos tudo que andamos, andamos mais uns 20 minutos e só então chegamos ao endereço correto. O resto do grupo já estava iniciando os trabalhos, então o pequeno atraso não fez grande diferença.

Minhas percepções sobre o Integrarte foram as seguintes: logo quando cheguei já foi possível perceber a presença de alguns deficientes do lado de fora da casa que abriga o projeto, conversando e esperando o horário de início da aula. Quando entrei, dois companheiros de grupo estavam entrevistando dois participantes do projeto, que falavam como se sentiam na sociedade, como os outros se comportam com eles, a importância do projeto para eles, etc. Só ouvindo estas entrevistas já fica muito claro o que eles querem para se alcançar uma melhora na sociedade. Na sala onde o grupo de dança ensaia e tem suas aulas, me surpreendeu a grande quantidade de alunos naquele dia (frio e de tempo fechado) e sua animação para que começasse logo.

Lugar cheio de gente querendo dançar

Fomos apresentados e nos apresentamos a todos, sendo muito bem recebidos e convidados para participar da aula. Levamos duas câmeras e eu, o Bruno e o Matheus ficamos responsáveis pelas fotos e gravações durante esta tarde. Havia diversos instrutores preparados para tirar dúvidas e auxiliar no alongamento e dinâmica da aula. No próprio alongamento, já surpreende também a independência que alguns deficientes mostram e sua noção de espaço muito bem desenvolvida. O professor principal passava as instruções durante a aula, e os alunos, sempre acompanhados por outra pessoa não deficiente, seguiam os passos, com menor ou maior dificuldade.

O instrutor (à direita e ao fundo) ensinando os passos básicos

Só de estar vendo esta integração tão natural já esquece-se da diferença física ou mental entre todos. A música e a dança começam a mostrar que todos são capazes. Inclusive vários alunos deficientes mostram que se por um lado temos maior facilidade em fazer certas coisas, na dança eles têm muitas vezes maior facilidade que nós. Só estar ali assistindo a aula já trás uma alegria e uma sensação de satisfação que faz valer a pena a visita, o tema da pesquisa, a disciplina e o curso. A experiência de vida que estar ali te dá é muito maior e mais importante do que qualquer nota ou conceito que possamos ganhar. Todas as histórias de vida ali envoltas fazem você perceber que seus problemas são muito pequenos e que às vezes preferimos nos acomodar do que correr atrás daquilo que nos complete e faça feliz. A visita, as conversas e todo o encontro de sensações que ali ocorrem nos faz parar para pensar no porque da separação, no porque do afastamento que existe entre os deficientes e nós, os "normais". Será que eles que se afastam, ou nós que nos afastamos e não sabemos nos comportar e incorporar a presença deles na sociedade ?

Sara

Inicialmente, chegamos ao local ás 15h, quando lá já estavam alguns dos nossos colegas iniciando entrevista com a coordenadora do projeto Geisa e dois dos alunos mais antigos do projeto, a estudante Grazi e o Sr. Lúcio, ambos deficientes visuais. A entrevista durou em média uns 30 minutos, nela foi conversado as dificuldades do deficiente visual para ter recursos que supram suas necessidades para atuar no mercado de trabalho em determinadas áreas (como a abrangência na área de psicologia, que é o curso que a Grazi faz), a compreensão do foco social que este projeto tem através da dança como terapia, e não como passatempo, e também sobre o desafio de encontrar profissionais aptos para trabalhar com deficientes visuais, auditivos e mentais. A Geisa observou que é o comum é encontrar profissionais que possuem aptidão apenas com deficientes ou apenas sem deficiência, mas profissionais que tenham ambas as aptidões par a promover a integração entre essas duas “categorias” é raro.

Todos os tipos de arte são uma terapia ao coração. Quadros expostos no Integrarte

Após a entrevista fomos para o salão onde as aulas de alongamento e danças são realizadas. Me chamou a atenção como boa parte dos alunos, que já possuem idade superior a 50 anos, tem facilidade para os exercícios de alongamento, e isso provavelmente seja também resultado dos movimentos realizados nas danças que lhes são ensinadas. Após o alongamento a aula começou e a maioria dos integrantes do nosso grupo participou da aula, exceto os que ficaram encarregados de colher fotos e filmagens. O ritmo da aula foi forró, e eu particularmente senti que alguns deficientes visuais possuíam mais facilidade na dança do que alguns do nosso grupo. Eu dancei com o Sérgio, que já é um senhor; ele demonstrou bastante facilidade com a dança, pois já fazia aula há alguns anos, e chegou até a brincar com minha dificuldade, dizendo com humor: “Mas menina, até parece que você quem é cega”.

Quem é o vidente e o cego quem é ?

A aula teve duração de 1h30m mais ou menos, e os últimos momentos foram com ritmos bastante dançantes com coreografias livres, em que todos os participantes da aula interagiram muito.

Sara e o Sr. Sérgio

Ao final da aula, a maioria dos deficientes foi embora com vans (algumas cedidas pela prefeitura), e por isso conforme seu transporte chega eles vão sendo conduzidos até ele. Por fim, fizemos uma entrevista com um dos professores de dança que participam do projeto, e com a Carol, uma aluna também da UFABC que é voluntária no Integrarte; eles nos contaram do que mudou depois que passaram a interagir mais com pessoas com deficiência e quais as dificuldades que enfrentaram pra que essa integração fosse feita.

Nossa colega da UFABC, Carol, que trabalha como voluntária no Integrarte

Tairine

No dia 20/09 fomos fazer a visita ao Integrarte. Combinei de encontrar o Bruno, o Matheus e o Daniel no Campûs de São Bernardo. Utilizamos o transporte da faculdade, às 13:50, para chegarmos ao terminal de São Bermardo. Encontramos a Sara no terminal e fomos ao encontro do restante do grupo, entretanto tínhamos o endereço Av. Senador Flaquer, quando, na verdade, era Rua Dr. Flaquer. Sendo assim, chegamos ao Integrarte quando o restante do grupo já estava iniciando as entrevistas e fomos recebidos pela Geisa, que é a coordenadora do projeto e tinha um semblante calmo, passando um ar de tranquilidade e paz para aquele ambiente. Um dos participantes do projeto, que é deficiente visual, estava expondo suas respostas com a participação da Geisa. Ouvindo essa entrevista, percebi a necessidade de instituições que compreendam de forma eficiente como trabalhar com esse público, pois os mesmos não querem ser inseridos na sociedade como vítimas, mas com direitos e deveres iguais a todos os cidadãos; querem apenas meios de facilitar sua acessibilidade.

O chão da sede do Integrarte tem caixas de som embaixo para que os surdos possam sentir as vibrações do ritmo !

Após as entrevistas, fomos assistir a aula de dança dos participantes do projeto. Durante o alongamento, coletamos o nome e o RG dos integrantes para a autorização do uso de imagens, e após a coleta dos dados fomos participar da aula, enquanto o Matheus, o Bruno e o Leonardo tiravam fotos e filmavam. No aquecimento, os voluntários ajudavam os participantes, mas os alunos com deficiência visual demonstravam noção de espaço, enquanto que os deficiente auditivos auxiliavam, a partir da observação, possíveis erros que os outros poderiam estar cometendo, demonstrando como essa interação é  simples e benéfica.

Mais uma foto do alongamento !

Durante a aula de dança, pude notar que a grande maioria dos alunos possui mais de 40 anos e dancei com o Sr . Antônio e depois com o Sr. João Batista. Enquanto dançava com o João Batista, nas conversas percebi que ele não estava preocupado com o fato de ser cego; na verdade , ele comentou sobre sua vida como qualquer pessoa sem deficiência, sem se sentir inferiorizado ou necessitado de ajuda. Enquanto dançava eu sentia mais dificuldade em aprender os passos, pois não tenho muito jeito para a dança. Isso demonstra que realmente não há limitações para pessoas com deficiência e sim apenas facilidade em fazer o que se gosta. O ritmo das músicas era forró. Após uns 50 minutos de dança, tivemos em torno de 10 minutos de descanso e em seguida voltamos com ritmos latinos.

Tairine e o Sr. Antônio

Tairine e o Sr. João Batista

Após o término da aula, tiramos foto com os voluntários e os alunos do projeto. Por fim, eu e a Sara entrevistamos o Daniel, que é um dos professores de dança, para sabermos sua percepção sobre o Integrarte e depois tivemos um bate papo com a Carol Becker, que é nossa colega de sala, voluntária do projeto. Na volta, junto com a Sara, o Daniel, o Giovani, o Bruno e o Matheus, utilizamos o transporte da faculdade para voltarmos para Santo André e jantarmos.

Uma questão bem interessante percebida durante a visita é que os alunos estavam lá pelo fato de gostarem de dançar e não se sentiam fazendo parte de uma ação social onde eram considerados inferiores em relação ao resto da sociedade. Esse é o tipo de sentimento que eles querem ter em qualquer ambiente, demonstrando que apesar de suas deficiências auditivas ou visuais, essas supostas limitações que poderiam existir são impostas pela sociedade e não por eles mesmos. Esse ambiente de total interação demonstra que em um local harmonioso as diferenças tornam-se complementos.

Referências


BLOG DO INTEGRARTE. Disponível em http://integrartesbc.blogspot.com.br/
Consulta em 12/08/2013

BRASIL, PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA/CASA CIVIL. Subchefia para Assuntos Jurídicos, Decreto nº 7.612, de 17 de Novembro de 2011. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Decreto/D7612.htm
Consulta em 24/09/2013
  
Entrevista com a Sra. Geisa Maria Minzoni Dias, coordenadora do Grupo Integrarte, realizada em  20 de setembro de 2013

SÂO BERNARDO DO CAMPO, NOTÍCIAS DO MUNICÍPIO ON LINE. Integrarte: unindo surdos e ouvintes pela sensibilidade da arteDisponível em  http://migre.me/gddY5.Consulta em 24/09/2013
Site oficial da Associação Santo Inácio para Integração do Trabalhador Especial- ASIITE http://www.asiite.org.br/ . Consulta em 24/09/2013

THE END